Roteiro de praias e chocolates em Itacaré, na Bahia
A quase deserta praia de Itacarézinho Foto: Serjão Carvalho/Estadão ITACARÉ - Chocolate é salada. Guarde com você este pequeno absurdo autoindulgente. Então, compre uma passagem para Ilhéus. E prepare o paladar – e os outros sentidos – para descobrir ou redescobrir um pedaço do litoral da Bahia que, já consagrado como destino de sol e mar, vem se tornando polo gastronômico singular nesse enorme Brasil tão diverso em sabores. Singular porque os 180 quilômetros entre Canavieiras e Itacaré (incluem as cidades de Ilhéus, Itabuna, Santa Luzia, Una e Uruçuca), que sempre tiveram sua fama atrelada ao cultivo do cacau, e sua mítica alimentada pela literatura de Jorge Amado, seus coronéis e sua Gabriela, recentemente vêm se tornando um polo produtor de chocolates finos. De fornecedores de cacau mediano para a grande indústria, os produtores vêm cada vez mais investindo em se tornar chocolateiros de alta qualidade. Em 2013, eram três marcas autorais. Atualmente, são mais de 70. “Foi o turismo que fomentou a produção de chocolate na região”, disse Marco Lessa, produtor de cacau e chocolateiro que já atuou como presidente da Associação de Turismo de Ilhéus e do Costa do Cacau Conventions e Visitors Bureau. O roteiro temático do chocolate na Costa do Cacau é jovem e vem sendo implantado aos poucos. Epicentro do projeto, a Estrada do Chocolate foi oficializada em 2017. Liga os municípios de Ilhéus e Uruçuca, pontuada de fazendas onde é possível conhecer todo o processo de produção do chocolate, do plantio do cacau até a fabricação do doce. O site ainda é bem inicial, mas traz uma lista de propriedades para visitar: estradadochocolate.com.br/site. As visitas devem ser agendadas com cada uma das propriedades (leia mais abaixo). Passeios na região permitem ver o cacau na floresta e depois degustá-lo nas fábricas Foto: Serjão Carvalho/Estadão ITACARÉ As atrações chocolateiras não se resumem à Estrada do Chocolate. Há fazendas abertas à visitação também em outros pontos, além de lojas. Nem as delícias dessa viagem vêm apenas em forma de barras e bombons. Dona de uma das maiores faixas contínuas de Mata Atlântica preservada do País, a região há muito tempo encanta pelas praias, pelas ondas para o surfe (as de Jeribucaçu chegam a 3 metros), pelo rafting no Rio de Contas. Nesta visita à região, há duas semanas, fiquei hospedada em Itacaré, no supercharmoso Txai Resorts. Foi uma base excelente para relaxar na praia e para visitar fazendas de pequeno e grande porte produtoras de cacau, que fornecem amêndoas para a marca paulista de chocolates Dengo, atualmente uma das grandes investidoras no cacau do sul da Bahia. O ovo de Páscoa Dengo recheado com vinho de cacau foi escolhido o melhor do ano na categoria cacau nacional, na seleção feita pelo suplemento Paladar, do Estado, com resultados divulgados na última quinta-feira (leia em bit.ly/ovosdepascoapaladar). Em uma dessas caminhadas na mata, comendo a polpa de um cacau colhido na hora, decidi morder uma das amêndoas – as sementes que ficam dentro do fruto e são posteriormente fermentadas e secas para a fabricação do chocolate. Fiz isso contrariando a recomendação dos guias, que cansam de repetir que o sabor da amêndoa crua é amargo demais. Até é verdade, mas também achei que tinha sim um quê de sabor de chocolate. E então voltamos ao ponto de partida: se o chocolate vem do cacau, que vem do cacaueiro, que é uma planta, chocolate é salada. Pelo menos foi nisso que me apeguei para nem pensar em culpa pelas degustações ao longo da viagem.